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Cooperação educacional China-Brasil: situação atual, desafios e perspetivas

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Published/Copyright: June 8, 2023

Resumo

À medida que as relações entre a China e o Brasil se aprofundam, as duas partes reforçam a sua cooperação nos domínios político, econômico e comercial. Neste processo, os intercâmbios culturais e educacionais têm sido valorizados por ambas as partes como uma via importante de promover o contato interpessoal e a aprendizagem mútua entre as duas culturas. Desde 1985, ano em que foi assinado o primeiro acordo de intercâmbio no domínio da educação entre os dois países, a cooperação educacional sino-brasileira começou a se expandir e têm se destacado as seguintes características: diversificação de conteúdos e formas de cooperação educacional; formação de um enquadramento de cooperação que engloba atores e níveis diversificados; aumento de quantidade e qualidade do ensino de línguas; e a ascensão da educação temática como instrumento de promover a aprendizagem mútua entre as culturas chinesa e brasileira. Nas últimas décadas, a cooperação educacional China-Brasil alcançou resultados variados, porém, esta continua enfrentando alguns desafios práticos, tais como a falta de institucionalização, a necessidade de alargar constantemente a sua quantidade e qualidade e a exigência de um conhecimento mútuo mais aprofundado sobre as realidades de educação das duas partes. No futuro, os dois países poderão reforçar a cooperação educacional e beneficiar ambos os povos por meio de promover a construção de mecanismos de cooperação relevantes, se focar mais na garantia de qualidade da cooperação, aprofundar os respetivos estudos sobre países e regiões, estabelecer banco de recursos de educação online e reforçar a cooperação no ensino profissional.

Abstract

As the relations between China and Brazil get deepened, the two sides are strengthening their cooperation in political, economic and commercial fields. In this process, cultural and educational exchanges have been valued by both parties as an important way of promoting interpersonal contact and mutual learning between the two cultures. Since 1985, the year in which the first exchange agreement in the field of education between the two countries was signed, China-Brazil educational cooperation began to expand and the following characteristics have stood out: diversification of contents and forms of educational cooperation; formation of a cooperation framework that encompasses different actors and levels; increasing the quantity and quality of language teaching; and the rise of thematic education as an instrument to increase of promote mutual learning between Chinese and Brazilian cultures. In recent decades, China-Brazil educational cooperation has achieved varied results, however, it continues to face some practical challenges, such as the lack of institutionalization, the need to constantly expand its quantity and quality and the requirement for a deeper mutual knowledge about the realities of education on both sides. In the future, the two countries will be able to strengthen educational cooperation and benefit both peoples by promoting the construction of relevant cooperation mechanisms, focusing more on guaranteeing the quality of cooperation, deepening the respective studies on countries and regions, establishing a bank of online education resources, strengthening cooperation in vocational education.

1 Introdução

A China e o Brasil estabeleceram relações diplomáticas em 1974. Nos primeiros momentos, os dois países tinham um contato escasso e se conheciam pouco um sobre o outro. A situação começou a mudar em 1984, quando o então presidente brasileiro, João Figueiredo, efetuou, pela primeira vez na história do Brasil, uma visita de Estado à China, abrindo assim um novo capítulo para as relações sino-brasileiras. Desde então, se vêm estreitando as relações bilaterais entre a China e o Brasil e, durante este processo, a educação tornou uma área importante de cooperação. Em 2012, a relação sino-brasileira atingiu um novo patamar e os dois países formaram uma parceria estratégica integral, criando um conjunto de mecanismos institucionais, entre os quais o mais significativo é a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN). No domínio da educação, a COSBAN estabeleceu uma subcomissão da educação para promover o desenvolvimento da cooperação educacional entre os dois lados.

Sendo os dois maiores países em desenvolvimento nos respetivos hemisférios, a China e o Brasil compartilham uma vasta gama de interesses,[1] que serve como uma base sólida para a cooperação bilateral. Neste enquadramento, a educação se destacou pelo seu papel notável de impulsionar o conhecimento recíproco e aprendizagem mútua entre os dois povos. O presente artigo visa abordar a situação atual do intercâmbio educacional entre a China e o Brasil, os seu desafios, e, com base neles, propor sugestões para a futura cooperação sino-brasileira no campo da educação.

2 Situação atual e características da cooperação educacional China-Brasil

A cooperação educacional China-Brasil remonta ao ano 1985, quando os dois países assinaram o primeiro acordo de intercâmbio no domínio da educação. Décadas depois, esta cooperação adquiriu um cariz sistemático e chegou a contar com uma diversidade de atores e uma variedade de formas, apresentando as características seguintes:

2.1 Diversificação de conteúdos e formas da cooperação educacional

Nos últimos anos, se verifica uma expansão de aspetos abrangidos pela cooperação educacional China-Brasil, que não se limita somente ao intercâmbio linguístico, e uma diversificação de formas de cooperação que vão além do intercâmbio do pessoal.

Em termos da educação superior, as instituições dos dois países apresentam a vontade e tendência de integrar os respetivos recursos vantajosos e formar em conjunto talentos qualificados, seguindo alguns exemplos: em 2020, a Universidade de Tecnologia de Zhongyuan e a Universidade de São Paulo assinaram um acordo para desenvolver programa de formação conjunta de pós-graduação;[2] em 2021, foi celebrado um acordo de formação conjunta entre a Universidade de São Paulo e a Universidade Agrícola da China.[3] Além dos casos mencionados, os educadores dos dois lados se mantêm em contatos por meio virtual durante a pandemia Covid-19, por exemplo, foi realizado o Diálogo Acadêmico China-Brasil intitulado “Educação na China e no Brasil no século XXI”, ocasião em que os representantes das duas partes refletiram sobre as experiências e práticas pedagógicas, de modo a reforçar as trocas e a aprendizagem mútua entre os dois países na área da educação.[4]

Em termos de pesquisa científica, a China e o Brasil lançaram juntamente projetos nos respetivos domínios predominantes, como agricultura, mineração e engenharia aeroespacial, com uma qualidade constantemente melhorada. Por exemplo, a Academia Chinesa de Ciências Agrícolas e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) criaram um laboratório conjunto para pesquisa agrícola, que se destina a fazer pleno uso dos respetivos recursos e tecnologias para aprofundar a cooperação científica China-Brasil na área de agricultura e recursos naturais, bem como aumentar a influência mundial dos dois países no domínio da biotecnologia agrícola.[5]

Em termos de estudos sobre países e regiões, as partes chinesa e brasileira fundaram diversas instituições de pesquisa com base em universidades, entre elas um conjunto de centros de estudos sobre a China e laboratórios criados pelos dois lados, tal como “Centro de Pesquisa e Inovação sobre Mudanças Climáticas e Tecnologias Energéticas China-Brasil da Universidade Tsinghua”. Reunido um grupo de intelectuais especializados na relação China-Brasil, estas instituições se dedicam a desenvolver estudos acerca de temas histórico, econômico, cultural e de relações internacionais e publicam um conjunto de obras acadêmicas, sendo o Relatório Anual sobre o Desenvolvimento do Brasil um exemplo. Essas atividades serviram como canais eficazes para aprofundar o conhecimento mútuo entre os dois povos.

Em termos de treinamento e formação de talentos, que é considerado um integrante significativo para a cooperação educacional entre a China e o Brasil, os governos chinês e brasileiro organizaram workshops de temas variados, o que contribuiu para a capacitação do pessoal em diversos setores. Além das iniciativas governamentais, as empresas atuam também como um ator ativo, entre as quais se encontra a empresa chinesa XCMG, que ofereceu treinamento para a polícia da cidade de São Paulo em colaboração com a Universidade Normal de Jiangsu. Visto que a mobilidade do pessoal é dificultada pela pandemia de COVID-19, atualmente, a maioria de workshops é realizada por meio online, entre eles o Programa de Treinamento e Seminário para Quadros de Juventude do Partido dos Trabalhadores (PT) e Seminário de Capacitação de PMEs em Países de Língua Portuguesa, que contaram com a participação de componentes brasileiros.

2.2 Formação de um enquadramento de cooperação que engloba atores e níveis diversificados

A cooperação educacional entre a China e o Brasil apresenta a propensão de absorver atores cada vez mais diversos. Na fase inicial, os principais promotores da cooperação educacional China-Brasil foram os órgãos governamentais e instituições de ensino superior. Nos últimos anos, os sujeitos do setor privado passaram a marcar uma maior presença na promoção da cooperação científica e tecnológica entre os dois países, entre os quais o mais representativo é a empresa chinesa Huawei, que tem mantido colaboração com instituições de ensino e de pesquisa.

Em 2009, a Huawei fundou o Competence & Innovation Development Center (CIDC) junto com o Instituto Nacional de Telecomunicações (INATEL), com vista a propor sugestões para desenvolvimento de competências e de soluções de redes de comunicação móvel para operadoras do Brasil e trazer benefícios concretos para a sociedade local por meio de integrar as respetivas vantagens teóricas e práticas. Segundo as estatísticas, o Centro já formou mais de 30 mil talentos na área de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Em 2017, a Huawei e INATEL lançaram em conjunto o programa Fábrica de Talentos, que se destina a cultivar mão de obra qualificada com conhecimentos profissionais sobre TIC em resposta aos desafios impostos pela transformação digital no Brasil.[6] Outro caso exemplar é a mineradora multinacional brasileira – VALE. Em 2010, a VALE assinou um acordo de cooperação científica e tecnológica com a Universidade de Ciência e Tecnologia de Beijing para conduzir uma pesquisa conjunta sobre a utilização eficiente do minério de ferro.[7]

Outra característica do enquadramento da cooperação educacional China-Brasil é o cariz multinível, ou seja, para além do nível nacional, essa cooperação se estende verticalmente aos mecanismos multilaterais e ao nível subnacional. A nível multilateral, durante os últimos anos, as duas partes integraram gradualmente os tópicos educacionais nos instrumentos como a iniciativa “Cinturão e Rota”, Fórum China-CELAC, Fórum para a Cooperação Econômica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau) e COSBAN, impulsionando assim a cooperação bilateral no domínio da educação. A nível da cooperação subnacional, os governos provinciais e municipais tomaram a iniciativa de criar laços com as entidades brasileiras no campo da educação para compartilhar recursos e aprofundar trocas bilaterais. Por exemplo, em 2021, a província de Fujian da China e o estado do Ceará do Brasil organizaram uma conferência sobre a cooperação no ensino superior para discutir como utilizar as respetivas vantagens e reforçar a colaboração na inovação científica e tecnológica e na formação de talentos profissionais;[8] o Departamento de Educação do município de Jinan da província de Shandong enviou professores para a Escola Chinesa Internacional (ECI) no Rio de Janeiro, que constitui um caso exemplar de cooperação China-Brasil na área de educação básica.[9]

2.3 Aumento de quantidade e qualidade do ensino de línguas e a valorização de talentos com competências abrangentes

Enquanto ferramenta de comunicação, portador de ideias e promotor de contato bilateral, a língua se tornou uma parte inerente do intercâmbio educacional entre a China e o Brasil. A cooperação em língua entre os dois lados é constituída sobretudo pelo ensino de línguas e pelo teste linguístico.

Atualmente, são as instituições de ensino superior e agências de difusão de cultura que se responsabilizam pelo ensino de línguas. Quanto à língua portuguesa, o primeiro curso de português na China foi inaugurado em 1960 no Instituto de Radiodifusão de Beijing (a atual Universidade de Comunicação da China). Até ao ano 2021, há mais de 40 instituições que oferecem curso de graduação em língua portuguesa na China (Shang & Chen, 2020). Quanto à língua chinesa, existem onze Institutos Confúcio e três Aulas Confúcio no Brasil, que contribuem para a divulgação da língua e cultura chinesa entre o povo brasileiro (Qiao, 2020). Além dos aspetos mencionados, se instalaram nos dois países postos aplicadores de exames para a proficiência linguística.

Nos últimos anos, se registra uma expansão constante do número de estudantes de língua, enquanto aumenta a exigência em relação à proficiência linguística, que já vai além de simples comunicação e passou a requer conhecimentos profissionais, tornando assim imperativo introduzir ajustes e reformas aos cursos de língua. Neste contexto, o objetivo de ensino das instituições chinesas com cursos de língua portuguesa vem evoluindo, de procurar excelência em competência linguística para cultivar talentos especializados em língua e, ao mesmo tempo, em um determinado campo de conhecimento. Mais concretamente, elas começaram a integrar no seu currículo disciplinas de outras áreas, como direito, economia ou comércio, e convidam professores de outras instituições a ministrarem aulas ou conduzirem formação conjunta para que os estudantes possam adquirir conhecimentos profissionais de um campo prático ao dominarem a língua.

2.4 Ascensão da educação temática como instrumento de promover a aprendizagem mútua entre as culturas chinesa e brasileira

À medida que a relação entre a China e o Brasil se aproxima, aumenta o interesse dos dois povos em conhecer a cultura da contrapartida. Em resposta a esta demanda, a educação temática se tornou um instrumento importante de promover a compreensão e aprendizagem mútua entre a China e o Brasil. Tal cooperação é frequentemente promovida pelo setor privado e, embora seja pouco institucional e sistemática, apresenta conteúdos e formas diversificados, o que favorece a participação das massas populares na cooperação educacional China-Brasil e injeta um dinamismo único na aprendizagem cultural mútua entre os dois lados. Atualmente, os componentes mais procurados da educação temática são o futebol e a medicina tradicional chinesa.

Em termos do ensino de futebol, o Brasil, com uma tradição longa e vitoriosa, dispõe de um sistema completo de formação de jogadores e é capaz de responder às demandas da parte chinesa de introduzir este esporte nas escolas. Com base nesta complementaridade, os dois lados alcançaram as seguintes cooperações: a Associação Chinesa de Futebol e a Confederação Brasileira de Futebol assinaram um memorando de entendimento em 2017 para aprofundar a colaboração nos aspetos como formação de treinadores; a Universidade Tongji e o Clube de Santos do Brasil assinaram um acordo-quadro de cooperação para desenvolver o ensino de futebol em escola em 2018;[10] a Escola Secundária Lingjiang, da cidade Linhai da província de Zhejiang, e a Escola de Futebol Higher Bridge, do estado de São Paulo, alcançaram o consenso de estabelecer a parceria de escolas-irmãs e fundar juntamente uma escola de futebol;[11] diversas escolas começaram a contratar professores de futebol da nacionalidade brasileira. Além disso, a pandemia não impediu o intercâmbio entre a China e o Brasil no ensino de futebol. A Confederação Brasileira de Futebol organizou a primeira edição do curso internacional online, que conta com a participação de estudantes chineses.[12]

Em termos do ensino de medicina tradicional chinesa, esta já é conhecida pelos brasileiros desde o século XX, quando a acupuntura foi oficialmente reconhecida como uma profissão e uma disciplina. Atualmente, mais de dez universidades brasileiras oferecem cursos de acupuntura e há cerca de 280 cursos de medicina tradicional chinesa ministrados em todo o Brasil. O número de profissionais em acupuntura chegou a 150 mil pessoas.[13] Em 2019, a Base de Cooperação Internacional China-Brasil de Produtos da Medicina Chinesa foi estabelecida conjuntamente pela empresa brasileira Taimin e pelo Hospital afiliado da Universidade de Medicina Tradicional Chinesa de Gansu.[14] No mesmo ano, o Instituto Confúcio e a Universidade Federal de Goiás assinaram um acordo sobre a criação do Instituto Confúcio de Medicina Tradicional Chinesa nesta última, com o objetivo de divulgar a cultura da medicina chinesa, construir pontes de amizade e proporcionar a mais brasileiros a oportunidade de conhecer ou aprender a medicina tradicional chinesa.[15]

Durante o período pandêmico, a China recorreu a terapias de medicina tradicional chinesa para tratar a pneumonia causada pelo novo coronavírus e adquiriu resultados positivos, o que chamou atenção da sociedade brasileira. Neste contexto, as duas partes realizaram eventos como o webinário de Cooperação Internacional na Medicina Tradicional contra COVID-19, com vista a expandir ainda mais o espaço de intercâmbio e cooperação na área do ensino de medicina tradicional chinesa.

3 Os desafios da cooperação educacional China-Brasil

3.1 Faltam sistematicidade e mecanismo de garantia à cooperação

Nos últimos anos, aumentam a variedade e a quantidade dos projetos de cooperação educacional sino-brasileira enquanto que falta uma ligação orgânica entre os dois lados a nível de conteúdo de cooperação, ou seja, o envolvimento de vários agentes na cooperação resulta em um fenômeno de fragmentação e dispersão com ausência de coordenação. A falta de comunicação e coordenação eficaz entre diferentes entidades leva o aumento de trabalhos repetitivos e não é favorável ao incremento da escala e da eficiência da cooperação. Além disso, é preciso esclarecer as competências e responsabilidades de cada entidade. De acordo com umas fontes brasileiras, em alguns casos de cooperação, embora ambas as partes demonstrassem vontades fortes de cooperação, os projetos encontraram dificuldades na sua implementação por falta de uma plataforma ou uma entidade específica de conexão.

Por outro lado, falta um acompanhamento permanente sobre a implementação dos projetos de cooperação. É imperativo aperfeiçoar o sistema de supervisão, avaliação e garantia em relação aos projetos. São necessários dados detalhados e relatórios de análise sobre a concretização dos acordos de cooperação para que se possa refletir e corrigir as falhas ou defeitos existentes na operação dos projetos de cooperação, garantindo a sustentabilidade dos projetos.

3.2 O nível e a dimensão da cooperação ficam por alargar

Nos últimos anos, o nível e o conteúdo da cooperação educacional sino-brasileira têm se diversificado, cobrindo gradualmente as áreas de educação básica, educação profissional e técnica e educação temática, porém, a cooperação se concentra principalmente na educação superior. De acordo com os dados da embaixada chinesa no Brasil, há cerca de 120 alunos chineses que estudam no Brasil cada ano, entre os quais a maioria são dos cursos de línguas e vão para o Brasil por meio do programa de intercâmbio. Eles se encontram sobretudo nas universidades brasileiras de renome, tais como Universidade de São Paulo, Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade Estadual de Campinas. Quanto aos alunos brasileiros que vêm para a China, também são, em geral, os universitários. Se pode constatar que existe um grande potencial de intercâmbio educacional em outros níveis de educação.

Tomando como exemplo a educação superior, a cooperação China-Brasil demonstram os seguintes problemas:

  1. a nível de atores da cooperação, são sobretudo as instituições chinesas de ensino superior de línguas que mantêm relações cooperativas com as universidades brasileiras, ou seja, o alvo de cooperação é singular;

  2. a nível de dimensão da cooperação, o número de intercambistas chineses e brasileiros é pequeno, sendo isso resultado do apoio financeiro fraco, obstáculo da língua e falta do conhecimento sobre o país-alvo;

  3. a nível do conteúdo da cooperação, ambos os lados têm alcançado resultados positivos na cooperação cultural e no ensino de línguas, entretanto, existe enorme espaço de colaboração na medicina, biologia e entre outras áreas de estudo prático.

A elevação do nível de intercâmbio educacional, a ampliação da dimensão da mobilidade pessoal e o alargamento das áreas de estudo da cooperação constituem os principais desafios que a cooperação sino-brasileira está enfrentando no momento.

3.3 Falta do conhecimento mútuo sobre a área educacional

As pesquisas sobre o Brasil têm aumentado recentemente com a publicação de uma série de livros e artigos acadêmicos e científicos como Relatório anual sobre o desenvolvimento da cooperação entre a China e os países de língua portuguesa, Livro da capa amarela: relatório sobre o desenvolvimento do Brasil e Livro da capa azul: relatório sobre o desenvolvimento dos países de língua portuguesa, elaborados respetivamente pelo Instituto de Estudos dos Países de Língua Portuguesa da Universidade de Estudos Estrangeiros de Guangdong, Instituto de América Latina da Universidade de Hubei e Centro de Estudos dos Países de Língua Portuguesa da Universidade de Economia e Negócios Internacionais. Estes estudos acompanham e avaliam o desenvolvimento anual dos países de língua portuguesa, inclusive o Brasil, partindo de diversos ângulos.

Porém, quanto ao conteúdo das pesquisas, os interesses dos estudiosos se focalizam nos aspetos de política, economia e sociedade. Foram feitos poucos estudos sobre o sistema educacional da China e do Brasil, bem como a cooperação bilateral na área educativa. Os materiais concernentes são geralmente reportagens ou textos das políticas cujo objetivo é divulgar as informações sem discussões aprofundadas sobre as semelhanças, diferenças, demandas ou interesses do sistema educacional dos dois lados. Os estudos atuais não atenderam a necessidade da otimização da cooperação educacional China-Brasil.

4 Perspetivas sobre a cooperação educacional China-Brasil

4.1 Aprimoramento do planejamento da instância suprema e promoção do mecanismo da cooperação educacional

O sistema perfeito constitui uma precondição importante para o desenvolvimento sustentável e a maximização do efeito da cooperação educacional. Embora a cooperação sino-brasileira tenha atingido resultados consideráveis tanto na quantidade como na diversidade no campo educativo, o mecanismo de cooperação ainda é imaturo e necessitam aumentar a sistematicidade e a sustentabilidade.

Além de terem sido membros de vários organismos e mecanismos multilaterais, a China e o Brasil, com comunicação ao longo de dezenas de anos, estabeleceram um conjunto de mecanismos bilaterais que servem como uma boa base de diálogo e colaboração. Os governos de ambos os países poderão aproveitar os canais existentes, interconectando a cooperação educacional China-Brasil com os maduros mecanismos bilaterais e multilaterais de diálogo e de negociação, e ao mesmo tempo, formulando agenda de cooperação educacional específica de acordo com as condições atuais e as demandas da educação das duas partes: por um lado, propor convênios de cooperação construtivos, promover o reconhecimento mútuo da escolaridade e do diploma, simplificar os procedimentos de mobilidade pessoal, impulsionar o compartilhamento dos recursos educativos de qualidade e fomentar a construção da Aliança Universitária China-Brasil e da Comunidade Educacional China-Brasil; por outro lado, definir as responsabilidades de cada parte, reforçar a eficiência e a regularidade da implementação dos projetos de cooperação e fornecer planejamento e apoio aos programas de intercâmbio e cooperação entre atores não-governamentais. As duas partes deverão inovar constantemente as formas de cooperação conforme as novas circunstâncias e desafios e estabelecer mais mecanismos de cooperação educacional sino-brasileira para servirem ao intercâmbio cultura e interpessoal e ao diálogo de civilizações entre a China e a América Latina.

4.2 Garantia da qualidade e do desenvolvimento sustentável dos projetos

Como foi referido acima, mesmo com os resultados consideráveis na quantidade, à medida que a cooperação bilateral se aprofunda, o aumento da qualidade se torna um novo desafio. Os dois países deverão atribuir uma maior importância aos caminhos de garantia da qualidade e incluir na agenda o melhoramento dos mecanismos de execução e de avaliação.

Para isso, é aconselhável confiar ou estabelecer um órgão específico que se responsabiliza pela coleta de informações e dados relativos à cooperação educacional e pela avaliação do andamento dos projetos, em colaboração com especialistas e estudiosos, para concluir as experiências e os defeitos na operação dos projetos.

4.3 Aprofundamento dos estudos sobre países e regiões para aumentar o conhecimento mútuo sobre a realidade educacional

Por causa das diferenças históricas e culturais, os sistemas educacionais chinês e brasileiro são distintos, bem como as condições reais e demandas concretas em relação à cooperação educacional, portanto, para estabelecer o mecanismo e a agenda da cooperação educacional bilateral, é necessário aprofundar o conhecimento e a compreensão sobre a realidade da educação da contrapartida a fim de definir as áreas prioritárias de cooperação, levar a cooperação educacional a progredir de forma gradual em diversos aspetos e formular um sistema de cooperação orgânico com um efeito de radiação.

Para atingir este objetivo, a curto prazo, é aconselhável reforçar o intercâmbio educacional de nível alto, aumentar o planejamento e a interconexão sobre a cooperação bilateral, convidar os especialistas a propor sugestões, estreitar os contatos entre os estudiosos e pesquisadores e ampliar a comunicação de informações; a longo prazo, se pode cultivar um contingente de profissionais que se dediquem às pesquisas sobre a educação chinesa e brasileira para que se possa identificar precisamente os pontos de convergência de interesses na área de educação de ambos os lados e fornecer desígnios e propostas à cooperação educacional sino-brasileira.

4.4 Construção do banco de recursos online para promover a internacionalização das universidades

Com a propagação da pandemia Covid-19, a mobilidade pessoal está sendo restringida, mas a procura dos estudantes pelos recursos educacionais e culturais internacionais não diminui. Na era digital, se eleva a velocidade do compartilhamento dos recursos pedagógicos e dados de pesquisa, o que proporciona condições favoráveis para a cooperação educacional e o intercâmbio cultural, lançando uma base sólida para o ensino online em grande escala durante o período de pandemia.

Na era pós-pandemia, a China e o Brasil poderão investigar as demandas dos estudantes e com base nisso, construir um banco de recursos online por meios de oferecer cursos online, organizar seminários e palestras e estabelecer plataformas de intercâmbio cultural, a fim de integrar os elementos internacionais e dimensões interculturais na construção dos cursos, aumentar o nível de internacionalização das universidades chinesas e brasileiras no contexto de mobilidade limitada do pessoal e permitir um maior contato com visões internacionais e culturas diversificadas a mais estudantes. Ademais, o aumento de aulas em língua inglesa ou gravadas com legendas facilitará o acesso dos alunos que não falam português às universidades brasileiras e estimulará a interação entre os cursos vantajosos de várias áreas e inovará os meios de intercâmbio bilateral.

4.5 Reforço de cooperação na educação profissional com base nas demandas reais

Apesar do esforço envidado pelo governo brasileiro na capacitação do pessoal, a falta de recursos humanos ainda constitui um problema para as empresas. Conforme o relatório publicado por Manpower, em 2021, 70% dos empregadores brasileiros demonstraram que era difícil encontrar talentos adequados (ManpowerGroup, 2022). Simultaneamente, as empresas chinesas encaram o mesmo obstáculo ao investirem no Brasil. A escassez de técnicos veteranos é um dos fatores que impede a expansão das empresas chinesas no Brasil.

Nesse sentido, ambas as partes poderão ampliar a cooperação na educação profissional através das seguintes medidas:

  1. Reforçar o papel de orientação do governo e integrar as vantagens da educação profissional dos dois países. Por exemplo, levar o projeto marcante da educação profissional chinesa “Luban Workshop” para o Brasil e desenvolver a cooperação no ensino e formação profissional e tecnológica com base na interligação das demandas de crescimento econômico e social do local e das áreas-chave de cooperação sino-brasileira;

  2. Atribuir importância ao contato com as empresas e tornar a relação entre o mercado de trabalho e a cooperação sino-brasileira na educação profissional em um relacionamento entre peixe e água. Se pode convidar as empresas a participar no desenho das disciplinas e fornecer cursos de formação baseados em pedidos da empresa para cultivar talentos que atendam exatamente aos requisitos da empresa. Dessa forma, as empresas chinesas terão técnicos para investirem no estrangeiro e, ao mesmo tempo, será favorável ao preenchimento das lacunas de profissionais no local. Em relação aos alunos, se pode iniciar sua interação com o setor industrial logo depois da entrada na escola, aproveitando os recursos de infraestrutura, humanos e de equipamentos das empresas de ambas as partes para facilitar a transição da escola para o mercado de trabalho.


Corresponding author: Fangfang Zhang, Beijing Foreign Studies University, Beijing, China, E-mail:

Referências

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Published Online: 2023-06-08
Published in Print: 2023-03-28

© 2023 the author(s), published by De Gruyter, Berlin/Boston

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Downloaded on 26.9.2025 from https://www.degruyterbrill.com/document/doi/10.1515/sai-2022-0018/html
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