Resumo
Este artigo tem como objetivo caraterizar as narrativas do antropoceno na literatura portuguesa contemporânea. Nestes textos, aparecem tanto (re-)escritas sobre impérios passados que reciclam referências históricas do império colonial como rascunhos para impérios futuros. O objetivo desta contribuição será demostrar a presença do passado colonial e analisar estratégias narrativas que se usam para refletir o antropoceno português nos romances A nossa alegria chegou (2018), de Alexandra Lucas Coelho, Zalatune (2020), de Nuno Gomes Garcia e Cadernos da água (2022,) de João Reis.
Introdução
Em Portugal, o passado imperial e colonial é omnipresente, entre outros, na arquitetura urbana, nas infraestruturas e no ensino de história. De tal modo, um estudo do Centro de Investigação em Educação da Universidade do Minho constatou que o ensino da história nas escolas “continua a ser fundamentalmente eurocêntrico, com uma estrutura cronológica teleologicamente justificada, nacionalista, androcêntrica” (Solé 2021: 49, tradução minha). Outro factor concreto é a migração desde e para as antigas colónias, estando o Brasil e Cabo Verde entre as “principais nacionalidades estrangeiras residentes numericamente mais representadas em Portugal, em 2021 e 2022” (de Oliveira 2023: 58).
Neste contexto, não é de estranhar que por um lado a literatura retome o passado imperial para o processar e (re)encenar, por exemplo sob a forma de “nostalgia colonial” que surge mesmo como tema best-seller (de Marchis 2006: 101). Neste sentido, Eduardo Lourenço resume de forma aguda que o processo da decolonização foi acompanhado “das mesmas ficções, dos mesmos fantasmas que durante séculos estruturaram a existência sonâmbula do nosso colonialismo inocente” (Lourenço 2014: 212). Esta tendência também se reflete na ponderada política portuguesa quanto à restituição de artefactos e restos mortais trazidos das ex-colónias, notando, em comparação com outras antigas nações imperiais, que “em Portugal reina o silêncio” (Ribeiro 2023).
Por outro lado, existem subtis tendências na literatura e noutras manifestações artísticas que revêem, exemplificam e, portanto, reescrevem uma visão homogénea e de hegemonia da história; simplesmente pelo facto de ampliar as versões transferidas do passado colonial. Exemplo de um tratamento desta ferida colonial difícil de ignorar é o romance português de retornados “que focaliza os acontecimentos de 1975 em Portugal e tematiza a volta de antigos colonos portugueses do Império colonial à ex-metrópole” (Macêdo 2020: 216). Outra mostra concreta desta contínua quebra ou reescrita do “espectro do império português” referido na introdução deste volume é a reavaliação dos arquivos fotográficos coloniais.[1] Nestas exposições prevalece o objetivo de reescrever esta “obsessão pela medição e classificação” de corpos e territórios africanos (MUHNAC 2022).[2]
No decurso do artigo descreve-se em que medida direta e subtil o romance A nossa alegria chegou (2018) de Alexandra Lucas Coelho, Zalatune (2020) de Nuno Gomes Garcia e Cadernos da água (2022) de João Reis abordam este processamento do passado imperial e colonial. Neste contexto, um foco estender-se-á nas alterações do planeta provocadas pelo ser humano chamadas antropoceno, que deve ser entendido como uma clara consequência do passado colonial.[3] Para esse efeito, as características do antropoceno em geral e do antropoceno português em particular são primeiro apresentadas e a seguir alimentadas com exemplos dos três romances. Seguir-se-á a análise das estratégias narratológicas e formais, antes da avaliação final.
1. O antropoceno português
Na literatura portuguesa contemporânea, a narrativa sobre o antropoceno atual começou a intensificar-se com o novo milénio, a crise socioeconómica (2008) e a crise da saúde mundial (2020). Trata-se de um desenvolvimento que surgiu nas literaturas de muitos outros países, mas com as suas particularidades em Portugal. Entre estas encontram-se o desaparecimento do território físico de Portugal nos textos, os vários elementos imperiais e coloniais e o significado de fuga e migração — particularidades que serão discutidas no decorrer deste artigo.
Neste ponto, gostaria de aprofundar o nexo entre o colonialismo e o antropoceno. Às feridas coloniais do poder, do saber e do ser, que estão a ser gradualmente revistas e tratadas, juntam-se novas feridas causadas pelo atual colonialismo climático — um termo que timidamente tem vindo a ganhar destaque nos últimos anos (Alkmin 2023: 52). O colonialismo climático descreve um processo multifacetado de exploração e submissão de países, povos e regiões sob a justificativa de combate à emergência climática global (Alkim 2023: 50), reconhecendo que o colonialismo é um fator histórico e contínuo da crise climática. Informa o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) no seu “Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima” que a vulnerabilidade dos ecossistemas e das pessoas à mudança do clima são impulsionadas por “padrões históricos e contínuos de iniquidade como o colonialismo” (IPCC 2023: 69). Aquelas alterações climáticas resultantes do colonialismo e da colonialidade são componentes essenciais para um antropoceno lusófono e, por conseguinte, para a sua literatura ficcional — mesmo que se considere apenas aos três romances mencionados e publicados em Portugal.
Em 2022, a Associação Sistema Terrestre Sustentável declarou que “Portugal encontra-se entre os países europeus com maior vulnerabilidade às alterações climáticas devido às características geográficas” (Zero 2022). As consequências consistem na intensificação das vagas de calor e das secas e dos incêndios florestais. Questões como a escassez e o racionamento de água, os riscos de inundações costeiras e as ondas de calor mortais tornar-se-ão ainda mais evidentes (Zero 2022) e são indícios claros das mudanças climáticas que tanto definem uma temática antropocêntrica.[4]
Na atualidade, o antropoceno como conceito original da geologia funciona como um conceito-ponte transdisciplinar, bem como um termo de reflexão que aparece em muitas derivações como, por exemplo, o euroceno, o tecnoceno e o capitaloceno (Dürbeck 2018: 15). Os temas centrais do debate sobre o antropoceno não são apenas a ameaça ao mundo e a sua habitabilidade causada pela humanidade, mas também uma perspetiva de tempo profundo do planeta. Esta confluência chamada de deep time explora a relação entre as temporalidades humana e geológica no discurso do antropoceno (Hüpkes 2020: 1). Entendido como uma narrativa que liga a culpa humana e a permanência humana em medidas geológicas de tempo, o antropoceno assume uma dimensão política (Hüpkes 2020: 6). Para além disso, trata-se da eliminação das fronteiras outrora claramente traçadas entre os conceitos de natureza e cultura, da negociação da responsabilidade ética para evitar mais destruição ambiental (Dürbeck 2018: 16).
A seguir, incorpora-se o conteúdo e a análise de três obras de temática antropocêntrica.
O que as une, neste caso, é o facto de todos os romances terem elementos de climate fiction (cli-fi) que Axel Goodbody e Adeline Johns-Putra definem como uma forma especial de trabalho cultural que lida com as alterações climáticas antropocêntricas e combina factos meteorológicos, especulações sobre o futuro e reflexões sobre a relação entre os seres humanos e a natureza (Goodbody/Johns-Putra 2019: 2). Nos textos, para além de cli-fi aparecem elementos de thriller, apocalipse e sobretudo das distopias críticas; ou seja, distopias que mantêm uma clara tendência utópica (Rendeiro 2022: 472).
O romance A nossa alegria chegou (2018) da autora-jornalista Alexandra Lucas Coelho traça-nos o fictício paraíso indígena chamado Alendabar, que se torna em parte um contra-motivo para o resto do mundo em colapso. Não obstante, desde a chegada de um autoproclamado rei, aquele paraíso único está também a colapsar. Através do entrelaçamento entre a escravatura — não especificamente designada como tal — e a criação de gado em massa, o último paraíso está a quebrar. O tempo narrativo do romance cobre um dia inteiro de equinócio em Alendabar, durante o qual os protagonistas põem em prática o plano de uma revolta no reino.
O segundo romance aqui discutido provém do autor-historiador Nuno Gomes Garcia que escreve a partir da diáspora parisiense. Zalatune (2020) narra os acontecimentos do ano 2034 no estado insular Ínsula algures no Mediterrâneo. A localização de Ínsula permanece nebulosa e alguns dos nomes e instituições remetem ao italiano ou catalão. Além disso, Ínsula surge como um lugar sintético, onde transparecem países como Itália, Cuba, Palestina e Israel, entre outros. Nesta ilha, encontramos uma sociedade tecnologicamente avançada e autossuficiente e conservadora, que despreza rigorosamente as imigrações de que por consequência vivem em condições desumanas. Paulatinamente cidadãos de Ínsula desaparecem e deixam a inexpiável nota “Parti para Zalatune” — um planeta paralelo com uma população consciente quanto ao declínio da Terra.
Cadernos da água (2022) de João Reis é um romance a várias vozes, dominado pela voz de Sara. Provavelmente o enredo tem lugar nos anos 30 do século XXI. Nestes cadernos, além da fuga de Portugal, a protagonista Sara documenta a sua vida e a da filha num centro de acolhimento provisório num aeroporto na Suécia. O destinatário das suas notas é o marido Emanuel, cuja sina permanece incerta. O Estado português deixou de existir, transformando-se, entretanto, numa região desértica sem lei. Houve as guerras pelas águas do Sul, um Primeiro e Segundo Evento e uma pandemia de Rex vírus 3 espalhou-se pela Europa, o Médio Oriente e o Norte de África (Reis 2022: contracapa). Os países do Norte fecharam as fronteiras e acabaram com o apoio financeiro que davam aos países do Sul da Europa, chamado “taxa de deserto”.
2. Temas dos espaços antropocêntricos
Depois de uma caracterização geral do antropoceno português, escolhemos três das características dos romances para descrever mais pormenorizadamente os espaços antropocêntricos processados. Resumimos estes três elementos em específico porque aparecem constantemente como padrões espácio-temporais. São dominantes e recorrentes nos textos aqui abordados, razão pela qual são explorados em maior profundidade a seguir: o tratamento do espaço geográfico-político-cultural de Portugal que pode implicar até o desaparecimento de Portugal, os elementos imperiais-coloniais e o papel da fuga e da migração.
Um exemplo desta tendência de descrever o espaço geográfico-político-cultural de Portugal pode ser encontrado nos Cadernos da água de Reis. No romance surge o conceito das supra-nações ou entidades políticas supranacionais como consequência da dissolução de Portugal, como espaço geográfico-político-cultural. Nesta situação, a narradora Sara e a sua filha já está a viver há algumas semanas num centro de acolhimento por serem refugiadas climáticas na Suécia, no qual pessoas dos antigos países Espanha e Portugal estão alojadas no mesmo grupo. Uma pessoa traz notícias da Península Ibérica:
Depois, tratou de nos falar das supostas notícias: Portugal, a União de Espanha e Catalunha uniram-se temporariamente como União Ibérica nas regiões do Norte e, em conjunto como a restante Liga do Sul, estão a repelir a União do Norte de Africa. Madrid foi já retomada pelas forças ibéricas, Lisboa ainda não. (Reis 2022: 128)
Por meio da União Ibérica, Reis reinterpreta um facto imperial concreto: durante o período histórico dos séculos XVI e XVII toda a Península Ibérica e os territórios ultramarinos portugueses ficaram sob o domínio dos reis Habsburgos espanhóis. De tal modo, alguns romances decorrem claramente nos espaços geográficos de Portugal. Noutros, são frequentes os casos em que autores apagaram os perfis reconhecíveis do espaço político em que se localiza a ação (Fernández 2020: 326). Com o início da pandemia, uma consciência do antropoceno aumenta e evidencia-se em narrativas de catástrofes ambientais devido à sobre-exploração dos recursos e epidemias que dizimam a população e tecnologias que passam a ser controladoras de vida humana (Fernández 2020: 325). Nos textos torna-se claro que não é apenas a perda de espaço político, mas também um chamativo retorno dos impérios que prosperam em novas formas e, acima de tudo, técnicas de autoritarismo, populismo e vigilância generalizada; detalhadamente descritas em Zalatune quando o líder ditatorial conclui que a “[...] vigilância absoluta é o único remédio para a crise” (Garcia 2021: 240). No início das Cadernos da água, Sara observa as crianças a brincar aos soldados e refugiados no campo de acolhimento. No jogo, as crianças portuguesas foram detidas por crianças de outros países por não terem um país legal na sua pulseira de documentação. Por conseguinte, Sara explica a sua filha que “[...] o nosso país já não existe” (Reis 2022: 14).
Como segunda característica, ainda mais referências a elementos imperiais-coloniais serão descritas. Com o crescimento das aspirações imperiais no mundo diegético, surge ao mesmo tempo a figura do imperador ou rei despótico, que se esforça por vigiar todo o país através de diversas tecnologias (digitais). O protagonista espanhol-português Jonas, apelidado de “carniceiro” pela sua brutalidade guerreira na Península Ibérica “sentia-se um verdadeiro imperador” (Reis 2022: 89) num grupo paramilitar chamado Os grifos. Nalguns textos, como Zalatune, podemos observar formas extremas de um imperialismo cultural: o Estado insular volta a deportar refugiadas e refugiados climáticos, apesar de estes já terem vivido na ilha durante vários anos (Garcia 2021: 122). Noutros excertos, predomina um imperialismo colonial, que visa penetrar e anexar territórios devido à sua atração económica e geoestratégica: em A nossa alegria chegou misturam-se formas de um colonialismo tradicional do passado com formas de um colonialismo climático do presente e do futuro. Para satisfazer as necessidades da produção de gado e minério (Rendeiro 2020: 96), o rei instala uma infraestrutura multifacetada e colonial de exploração. Subjugando povos, flora e fauna, o livro remete a fenómenos como escravização, desflorestação, extinção de espécies e exploração máxima de recursos humanos e naturais: “É o mais velho dos servos. Aquele que chegou num barco atulhado de gente, trazendo um nome do outro lado do mar, e todos estes anos cortou a garganta das reses. Até hoje, foi o matador do Rei” (Coelho 2018: 166). Aquele servo mais velho sem nome que traz a referência do continente africano — “do outro lado do mar” — descreve ao mesmo tempo o continente como centro do capital de corpos humanos (Zeuske 2022: 3). Para complementar, Margarida Rendeiro refere-se ao paralelismo óbvio entre a escravatura e a exploração intensiva de gado no romance, apesar de faltar a referência clara à escravatura no texto de Coelho. Nesta citação, Rendeiro retoma a ideia dos corpos explorados:
No romance de Alexandra Coelho, desenha-se um paralelismo entre a matança e a desumanização dos animais e a desumanização dos corpos humanos explorados. Esse paralelismo insinua-se na localização do matadouro e do alojamento dos servos, este atrás do primeiro. (Rendeiro 2020: 92)
Neste sentido, novamente situamo-nos perante o reuso da figura da história colonial nos romances analisados. Para além disso, as descrições exotizantes do paraíso de Alendabar, da sua flora e fauna e a descrição de uma tradição antropofágica fazem lembrar os primeiros relatos sobre o assim chamado Novo Mundo. Não obstante, uma leve reescrita acontece no mesmo momento da revolta quando os protagonistas agem com o objetivo de destruir o império do rei em Alendabar (Rendeiro 2020: 96), articulando desta maneira que “a alegria é a revolução” (Coelho 2018: 94) realizada através da figura do “insurgente” com o poder transformador (Rendeiro 2020: 97). Só neste momento final do livro é que a escravatura de tipo colonial é claramente articulada quando os afetados são chamados a resistir mediante a voz do megafone: “Não trabalhem para quem escraviza” (Coelho 2018: 163). Nesta mesma linha de desumanização através do uso terminológico em estrita conexão com passos administrativos, que consistiu numa das características da administração colonial, no romance Zalatune, o governo de Ínsula troca a palavra de refugiados por invasores (Garcia 2021: 127).
Finalmente e como terceira característica, expomos aqui as circunstâncias da migração involuntária, mais precisamente da fuga, omnipresente nos romances Zalatune e Cadernos da água. Nos dois romances, pessoas fogem de situações de alto risco de vida. São forçadas a fugir por razões climáticas, por motivos discriminatórios e devido a conflitos armados. Existem campos de acolhimento há gerações sem que se verifique a perspetiva de integração real. As expulsões são muito correntes e apoiadas pela população de Ínsula em Zalatune: “Só hoje, o Governo expulsou cinquenta mil invasores de regresso ao continente de onde vieram e, durante os próximos dias, serão expulsos os restantes trezentos mil — começou” (Garcia 2021: 122–123). Tanto Zalatune como Cadernos da água descrevem gigantescos campos de acolhimento e, portanto, formas não-humanitárias, discriminatórias e xenófobas. O direito de receber proteção contra a perseguição e de não ter de regressar a um determinado país de origem, bem como o direito de conceder proteção às pessoas que a procuram, já nem existente. Na obra de Reis se comenta numa entrevista fictícia o seguinte:
Sobretudo o aquecimento global e consequentes alterações geopolíticas, agora muito óbvias, como o aumento das migrações, os conflitos em África e no Médio Oriente, ou a fome no Sul de Madagáscar. Mas houve outros indicadores ou instigadores, claro, como a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, que durou tantos anos, a integração da Bielorrússia e o ataque biológico no Mar de Barents, ou o incidente de Tampere, além da disseminação europeia do rex-vírus 3. (Reis 2022: 139)
Ao descrever este cenário, no qual Reis além do mais antecipa a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, torna-se claro que a intensificação da fuga e da migração é uma consequência de uma crise múltipla, predominada por uma crise climática. Neste sentido, no decurso das três obras, em vários excertos acontecem repetições das condições imperiais como por exemplo as confluências entre império, clima e pandemias.[5] Com uma análise dos espaços antropocêntricos nos três romances que abrangeram o tratamento do espaço geográfico-político-cultural de Portugal, os elementos imperiais-coloniais e o papel da fuga e da migração, passamos agora a discussão da estrutura formal.
3. Estrutura narratológica e formal
No debate sobre as formas de representação nos textos literários que abordam as narrativas do antropoceno, é cada vez mais frequente a referência a procedimentos narratológicos e formais. Para Eva Horn, uma estética do antropoceno explica-se menos pelas referências temáticas do que pela forma, por isso propõe três desafios e categorias:
Aesthetic form in the age of the Anthropocene, I will argue, needs to deal with three challenges: (1) latency, the fact that the transformation of the world is happening not in the form of cataclysmic events but in imperceptible and unpredictable processes; (2) entanglement, the fact that the modern separation between the human and “the world” has dissolved into uncanny dependencies, unintended consequences and unpredictable side-effects; (3) a clash of scales, the fact that the environmental crisis of the Anthropocene unfolds on very different spatial, temporal and quantitative scales. (Horn 2020: 160, itálicos no original)
A figura da latência é importante para os três romances, mas não é decisiva. A transformação da Terra já está em curso em Cadernos da água. Em Zalatune e A nossa alegria chegou as mudanças são iminentes; no romance de Coelho, a transformação em forma de revolta está a decorrer no mesmo dia do período narrativo. Por essa razão, as observações que se seguem limitar-se-ão às descrições de entanglement e scales:
Enquanto scales ilustram o lugar dos humanos num quadro de referência planetário e temporal profundo, os procedimentos de entanglement referem-se ao entrelaçamento de formas de vida humanas e não humanas ou à mistura de formas de vida e materialidades. (Müller 2022: 30, itálicos no original, tradução minha)
Os processamentos de scales incluem um quadro de referência planetário e uma perspetiva de deep time o que faz que as escalas entrem em ação. É de salientar que a perceção da superfície terrestre muda na consciência do século XVIII (Bachmann 2013: 56) e nascem teorias para explicar a existência das rochas desde a atividade vulcânica, o plutonismo, ou o neptunismo, assim denominado por defender uma origem marinha para as rochas (Bachmann 2013: 57). Desde o final do milénio passado surge uma reflexão sobre o deep time. Esta mudança de foco, do presente problemático da humanidade para o tempo profundo da Terra, enfatiza a curta vida da humanidade (Müller 2022: 33). Sobretudo em Zalatune entra-se profundamente na geologia de sedimentos e das rochas sedimentares. Figuras geográficas que aparecem regularmente são “espaços aquáticos” que tematizam a presença ou ausência de água — mediante rios, leitos secos, oceanos, falésias ou ilhas — e o abalo dos mundos existentes através de terramotos, maremotos e explosões, bem como o regresso permanente aos tempos profundos do espaço geológico. Esta visão das profundezas da Terra ganha uma dimensão importante em Zalatune. Toda a narrativa gira ao redor do deep time da ilha o que se depreende também no título da segunda parte do livro “A tectónica dos últimos dias” (Garcia 2021: 171). Ínsula “responde” aos desastrosos processos terra-formadores com terramotos e maremotos com tudo o que isso implica — peixes voadores, micro sismos, o derretimento dos picos, o êxodo e o suicídio em massa que acaba com a referência à ressurreição de uma versão da humanidade supostamente mais amiga da Terra (Garcia 2021: 248): “Nada sobreviverá, nenhum animal, nenhuma planta, nada. O planeta será um enorme oceano composto de novos elementos e a vida que o vai habitar será tão diferente que a nossa mente é incapaz sequer de a imaginar” (Garcia 2021: 275). Nas últimas quatro páginas do capítulo “A permutação final”, Garcia escolhe deliberadamente a narrativa da grande transformação apocalíptica da Terra que é considerada uma das narrativas centrais do antropoceno (Dürbeck 2018: 10). Assim, voltar-se para as profundezas dos sedimentos implica também uma procura de respostas para o futuro, que não só levanta questões sobre a forma como os humanos formaram o planeta, mas também sobre a sua habitabilidade cada vez mais incerta. Com esta ênfase na geologia nos textos portugueses, não é de estranhar que as duas protagonistas de Zalatune sejam ambas geólogas e professoras universitárias. Pietra Grixti, filha de três mães, refere a sua paixão pela geologia já no seu nome próprio. Ela, uma geóloga de renome internacional (Garcia 2021: 25) e diretora de um departamento da geologia em Ínsula (Garcia 2021: 16) e a sua amada Kamaria Adrachi, professora de geologia estrutural e petrologia ígnea e metamórfica (Garcia 2021: 99) encarnam o espírito revolucionário de resistência da ilha.
Questões de emaranhamento (entanglement) são acompanhadas por uma reflexão sobre a diversidade de agentes interativos que possam ter agency. Neste contexto convém referir a elementos geológicos, climáticos, técnicos ou da flora e da fauna, chamados actantes na terminologia de Bruno Latour (2014: 11). É de salientar que Latour também atribui agency aos seguintes atores: “volcano, Mississippi River, plate tectonics, microbes, or CRF receptor any more than generals, engineers, novelists, ethicists, politicians” (Latour 2014: 15). Sem esta noção ampliada da agency, que, tal como o animismo, abala a fronteira absoluta entre cultura e natureza, seria inconcebível pensar em literaturas do antropoceno.
Como se verá de seguida, em Zalatune, aparecem formas de scales e entanglements de formas de vida humanas e não humanas, sendo que o elemento água cumpre um papel de destaque, onde lhe é dada agency, em que o elemento domina o enredo e o título de muitos romances. O mesmo acontece com o planeta Terra no romance Zalatune, ou seja, Ínsula como Micro-Terra reage às ações humanas e sofre as suas consequências. Nos textos torna-se óbvio que a Terra recuperou todas as características de um agente de pleno direito e sobretudo voltou a ser um sério agente da história (Latour 2014: 3).
Além disso, no romance A nossa alegria chegou, pode observar-se o topo da simultaneidade do não-simultâneo. Na terminologia de Bloch remete-se a um desenvolvimento temporal desigual gerado pelos processos velozes da modernização capitalista que luta contra sistemas de não-sincronicidade a favor do progresso (Hegener 2012: 142). No romance é a inseminação artificial que produziu “o bebé do rei” (Coelho 2018: 23) estéril e a inteligência artificial (IA) Jade do visitante empresário e científico Zu “do Oriente” que coexiste com à tradição antropofágica indígena de misturar as cinzas de defuntas e defuntos com o fruto da morambeira fictícia e comê-las (Coelho 2018: 77). No entanto, elementos quase utópicos tornam-se visíveis através da referência frequente às futuras gerações com a encenação de gravidez, inseminação artificial e no geral da figura da criança como imagem de esperança que nos conduz ao conceito do reproductive futurism: “Such texts use the figure of the child to think about the threatening nature of the future in the face of the climate crisis; but equally important is their attempt to center the violence of pregnancy, reproductive loss, and birth as a bodily experience” (McFarlane 2023: 233). Além disso, há uma simultaneidade de modelo de vida queer do protagonista Ira no meio de um ambiente neocolonial-imperial. Ira não está apenas sexualmente ligado a Ossi e Aurora, os três com 17 anos de idade, mas sobretudo pelo seu plano conjunto da revolta contra o rei.
As estratégias narratológicas de entanglement e scales aqui descritas não são apenas adequadas para explorar temas urgentes do antropoceno do presente e do futuro. Além disso, são precisamente estas formas de alongamento espacial e temporal da história da Terra e da humanidade que permitiriam uma reescrita criativa dos impérios futuros com base nos impérios passados e nas suas crises.
Considerações finais
Após esta análise temática e formal dos espaços antropocêntricos na literatura portuguesa contemporânea, podemos constatar que desde as últimas duas grandes crises — a crise financeira em 2008 e a pandemia em 2020 — a literatura integrou cada vez mais as alterações climáticas e reagiu através de uma referência consciente ao antropoceno. Alguns dos textos ficcionais publicados em Portugal apontam tanto para a atualidade política, social ou climática como para um futuro com todas estas características ainda mais desenvolvidas. Ao nível de conteúdo, aqueles romances negoceiam o futuro de Portugal, da Europa e do mundo e fazem uma interessante alusão à passados e futuros imperiais (portugueses) e das suas crises, e, por outro lado (re)produzem entidades políticas muito distantes das atuais. Tornou-se claro que a referência a impérios passados nos textos distópicos discutidos reforça predominantemente as defeituosas estruturas coloniais-imperiais e que só no que diz respeito aos formatos de esperança, resistência e projeções de reviravolta é que houve uma leve reescrita. Novamente mencionamos a persistência de estruturas imperiais e coloniais nos textos que tanto se tecem com novos elementos de escravatura, vigilância, despotismo, extrativismo e populismo como com confluências entre império, clima e pandemias. Os futuros impérios parecem ter a mesma função dos impérios antigos, exercendo uma autoridade soberana sobre outros pela força (Magalhães 2013: 82). Assim, os impérios e as supra-nações do futuro são alimentados pelos impérios do passado (português) que leva ao topo da não simultaneidade do simultâneo — perduram e renascem lado ao lado tecnologias hipermodernas e estratégias imperiais e coloniais. As crises descritas nos textos são sempre múltiplas e dominadas por fenómenos climáticos como detonador de crises políticas, biopolíticas, socioeconómicas, etc.
No futuro, será necessário considerar em que géneros e com que outras estratégias se expressam as narrativas do antropoceno português e em que medida a figura do império e das suas crises serão persistentes ou reescritas. Nesta altura, também é perspicaz comparar estes resultados com aqueles dos textos do antropoceno de todos os territórios antigamente colonizados por Portugal; com um possível foco nas reescritas de entidades geográfico-político-culturais longe do império.
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Articles in the same Issue
- Frontmatter
- Frontmatter
- Editorial
- Império português: crises e reescrita. Introdução
- Museu das Invasões
- Novas formas de olhar. Fotografias coloniais em exposições portuguesas na atualidade
- Representações do passado colonial para a descolonização da memória: leituras a partir da literatura contemporânea brasileira e alemã
- O império brasileiro em crise: prismas da história e da crítica literária nos séculos XIX e XX
- O império quebradiço. Decadência urbana e declínio físico-moral em Pranto de Maria Parda (1522) de Gil Vicente e na poesia de Gregório de Matos
- O duplo lugar de fala entre palavras próprias e estruturação pela hegemonia:Quarto de Despejo (1960) e Boca de Lixo (1993)
- Reeditar e reescrever as trajetórias dos recadeiros da terra: entre o cânone literário e obras contemporâneas
- “A formidavel confusão da natureza”: écfrase e ecopoética na reescrita do Império português no romance O terremoto de Lisboa (1874) de Pinheiro Chagas
- Crises nos impérios.Narrativas do antropoceno na literatura portuguesa contemporânea
- Fim de vida no fim do império nos romances Último Olhar (2021) de Miguel Sousa Tavares e Misericórdia (2022) de Lídia Jorge
- Reseñas
- José Teruel, Santiago López-Ríos (eds.): El valor de las cartas en el tiempo. Sobre epistolarios inéditos en la cultura española desde 1936, Madrid-Frankfurt: Iberoamericana-Vervuert, 2023 (391 págs.)
- Álvaro Ceballos Viro: Las letras de la República. Luis de Tapia y los usos políticos de la literatura en la Edad de Plata. Madrid: La Oveja Roja, 2021 (349 págs.)
- Libros recibidos
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- Álvaro Ceballos Viro: Las letras de la República. Luis de Tapia y los usos políticos de la literatura en la Edad de Plata. Madrid: La Oveja Roja, 2021 (349 págs.)
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